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© Vasco Flores Cruz/CIBIO
Artigo
Publicado em 22/5/2012 por Isabel Pereira

À primeira vista este é apenas um pequeno e inofensivo cágado, que normalmente é vendido numa adorável piscina de plástico. Mas a verdade é que, quando libertadas na natureza, espécies exóticas (como esta) estão a colocar em risco a continuidade das duas espécies de cágado portuguesas.

Falamos do cágado de carapaça estriada (Emys orbicularis) e do cágado mediterrânico (Mauremys leprosa). Estas duas espécies autóctones são fáceis de identificar: a primeira tem cerca de 16/17cm, uma coloração acastanhada, riscas e bolinhas amarelas na cabeça, patas e carapaça; a segunda pode atingir os 20cm, é um pouco mais castanha, tem riscas laranja na cabeça e incrustações de algas na carapaça.

Se as vir fique feliz porque elas são cada vez mais raras. No caso do cágado de carapaça estriada trata-se já de uma espécie classificada com o estatuto de conservação de "em perigo". A maturação sexual tardia (depois dos seis anos), o número reduzido de crias (raramente ultrapassando as 10 crias por postura) e a grande dependência de massas de água de pequenas dimensões (pequenas lagoas ou charcos grandes – afetados pelas explorações de agricultura, e pela urbanização) têm-se afigurado como características favoráveis a um declínio continuado destes cágados.

O problema tem vindo a atingir dimensões verdadeiramente preocupantes com o aumento da presença humana, da poluição e de um grupo de cágados invasores que competem com os autóctones.

José Teixeira, investigador do CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) é responsável pelo projeto LIFE Trachemys, que se enquadra no Programa LIFE+, um instrumento financeiro para a conservação e proteção da natureza na União Europeia. Este projeto, que conta também com a participação do RIAS (Centro de Recuperação de Animais Selvagens da Ria Formosa) e do Parque Biológico de Gaia, tem ação no desenvolvimento de estratégias e técnicas demonstrativas para a erradicação de cágados invasores.

Quem são estes invasores?

Qualquer espécie que não seja autóctone é potencialmente perigosa quando libertada em meio natural. Destaca-se, no entanto, o caso da tartaruga da florida. Uma espécie indígena da bacia do Mississípi nos Estados Unidos da América (EUA), Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá e Venezuela, que atualmente está presente um pouco por todo o mundo.

A sua subespécie mais comum é o chamado cágado de orelhas vermelhas (Trachemys scripta elegans), aquela que foi mais vendida em todo o mundo. “Em Portugal começou na década de 80 e por ano vários milhares destas tartarugas foram distribuídas” refere José Teixeira. Destacam-se ainda outras duas subespécies que tem as orelhas (nome comum que designa as duas manchas que têm na cabeça) amarelas, a Trachemys scripta scripta e a Trachemys scripta troosti.

Elas entram no mercado nacional como todos os pequenos cágados, vendidas nas lojas em piscinas de plástico com uma palmeirinha, que dão a ideia de que vão manter a pequena dimensão. Mas a verdade é que “passados poucos anos, ultrapassam os 30cm, ultrapassam os 2,5kg, comem muito e tornam-se agressivas - características que fazem com que as pessoas comecem a querer livrar-se delas as libertem nos meios naturais”, alerta o especialista.

Invasores com vantagens competitivas

Ora a libertação destes animais é altamente prejudicial para a fauna nacional. As espécies exóticas competem com as autóctones pelos locais onde se pode apanhar sol, pelos locais de nidificação e pelo alimento. As exóticas “crescem mais e mais depressa, atingem maturidade sexual mais cedo, têm maior número de ninhadas por ano e mais crias por ninhada - tudo isto configura uma situação altamente vantajosa para elas”, explica o coordenador do projeto LIFE Trachemys.

Estes cágados têm ainda introduzido doenças no meio natural. Maleitas típicas destas espécies americanas e de espécies de cativeiro que podem ter impacto bastante grave nas populações naturais.

Para além do impacto nas populações de cágados nacionais, “estas espécies são predadoras de vários peixes, anfíbios, invertebrados e até de pequenas aves, e inviabilizam ainda os ninhos de algumas aves aquáticas indo para cima deles apanhar sol”, acrescenta José Teixeira.

Projeto LIFE Trachemys

O projeto LIFE Trachemys tem desenvolvido uma ação em três vertentes: criar métodos de captura de invasores mais eficazes, através de novas armadilhas; informar a população acerca deste problema; e levar a cabo a reprodução em cativeiro de cágado de carapaça estriada, sendo que os juvenis são mantidos em cativeiro até atingirem um tamanho em que a sua mortalidade na natureza é menor. [ver recursos]

"Atuamos no Algarve, onde se pensava que poderiam estar as populações estabelecidas há mais tempo e com maiores densidades. Durante um ano apanhámos cerca de 100 cágados invasores em quatro lagoas da Ria Formosa e vimos que a situação já estava descontrolada nestes locais", explica o coordenador do projeto. Refira-se que os animais exóticos capturados são alvo de uma avaliação sanitária e seguem para o Parque Zoológico "Krazy World" onde são mantidos "nas condições apropriadas e exibidos para fins pedagógicos".

Fora do Algarve, o grupo de investigadores que está envolvido neste projeto quer ainda compilar informação de locais onde existam cágados invasores e está a tentar retirá-los de alguns sitios, nomeadamente de alguns jardins públicos (lagos do parque da cidade no Porto, e jardins em Tavira, Loulé e Faro, por exemplo).

Foto: Vasco Flores Cruz/CIBIO

Cágado de orelhas vermelhas - Trachemys scripta elegans

 

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José Teixeira

Onde devem ser deixados os cágados?

José Teixeira

Como são recolhidos os invasores?

Vasco Flores Cruz/CIBIO

cágado de carapaça estriada

Vasco Flores Cruz/CIBIO

cágado mediterrânico

Projeto LIFE Trachemys

Armadilha construída no âmbito do projeto LIFE

Projeto LIFE Trachemys

Folheto explicativo do projeto LIFE Trachemys

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