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© Marco Correia
Artigo
Publicado em 15/7/2013 por Isabel Pereira

Com uma carreira de 15 anos nesta atividade, Marco Correia aponta como o seu maior projeto para o futuro, “consciencializar as entidades portuguesas para a importância da ilustração científica”. Atualmente, divide-se entre os projetos de ilustração científica, o design de comunicação, as atividades de desenho de campo do Grupo do Risco e o ensino nos mestrados de ilustração do ISEC/UE e da ESAP-Guimarães.

Como surgiu o seu interesse pela ilustração científica?

O gosto surgiu desde criança. Desde miúdo que gostava muito de andar pela natureza, era muito observador e apanhava tudo quanto era bicharada para poder ver e analisar. Em paralelo, sempre tive o hábito de desenhar, e sempre animais.

Em relação à minha formação académica, na escola secundária fiz um percurso na área das ciências objetivando a veterinária ou a biologia. No 11º ano comecei a ter mais dificuldades em disciplinas como a matemática, a física e a química, depois surgiu o curso de artes na minha escola e optei, no final do 11º ano, por passar para área das artes. As coisas correram bem e acabei por entrar, em 1993, na Faculdade de Belas Artes, onde fiz o curso de Design de Comunicação. Ainda durante o curso vi um artigo na revista Fórum Ambiente sobre o ilustrador científico Pedro Salgado, e alguns dos primeiros formandos dele nos workshops que dava… Participei num workshop. Ele depois convidou-me para trabalhar no seu ateliê, e foi aí que iniciei a minha atividade como ilustrador científico, num projeto com o Oceanário de Lisboa.

Como tem sido o seu percurso como ilustrador? Que tipo de projetos costuma desenvolver?

Tenho tido sempre projetos dentro dos diversos temas da ilustração científica… Tenho trabalho em educação ambiental, com parques, com o oceanário, com pequenas publicações, e com algumas associações, como a SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), por exemplo… 

Como é o processo criativo, é preciso muita pesquisa prévia?

Há imensa pesquisa! Eu normalmente, no meu dia-a-dia, sempre que me deparo com uma espécie que não tenho registada recolho o máximo de informação. Um hábito que tenho, que não é bem visto por algumas pessoas, é aproveitar cadáveres de animais… Recolho-os e faço logo um registo fotográfico e alguns esboços do animal. Tenho esse cuidado de ter objetos de referência, não me cingindo apenas às imagens e aos textos que possa encontrar. É extremamente importante poder manusear o animal e perceber os seus movimentos.

Quando recebo um trabalho, sobre determinada espécie, a primeira coisa a fazer é perceber se tenho esse animal no meu banco de espécimes conservados, e mesmo que o tenha, a fase seguinte é fazer uma pesquisa exaustiva de textos e imagens referentes a essa espécie, quer em biblioteca, quer na internet. Depois há que perceber de entre essa informação o que é válido e o que não é… Segue-se a fase de construção do desenho preliminar, e aí o que faço é montar um puzzle entre as várias referências de maneira a completar a ilustração na posição que esbocei anteriormente como sendo a ideal.

É frequente recorrer a especialistas da área científica durante essa pesquisa?

Sim, sempre que trabalho em áreas que não domino recorro a especialistas… Converso com ele e percebo a disponibilidade para acompanhar o projeto, de forma evitar erros.

Qual é a maior dificuldade da ilustração científica?

A maior dificuldade é mesmo arranjar projetos. Temos de ser nós a procura-los. Cá em Portugal existe muito potencial, há muito trabalho a fazer, e a prova disso é que todos os alunos que têm saído dos mestrados de ilustração científica quando fazem estágios em autarquias, museus, associações, etc., têm sempre trabalho para desenvolver. O que ainda falta é a sensibilidade para se perceber como é que isso pode ser feito. Se calhar parte de nós, ilustradores científicos, tentarmos incentivar as instituições, por exemplo, a fazerem contratações… Porque não contratar um ilustrador a tempo inteiro, cujo vencimento vai ser bem mais barato do que fazer contratos pontais para trabalhos específicos?

Qual foi o trabalho que, até hoje, lhe deu mais gosto fazer?

Cada trabalho tem as suas características… Mas adorei trabalhar o projeto do oceanário, porque além de ter sido o primeiro grande projeto em que participei, aprendi imenso sobre peixes… Também adorei trabalhar num projeto dirigido para um público científico sobre salamandras e tritões da península ibérica, para o Museu de Ciências Naturais de Madrid. Só pela grande aprendizagem que resulta de cada trabalho, todos eles são muito interessantes…

“Não dá para sobreviver só da ilustração científica”

Tem apostado em internacionalizar os seus trabalhos? Ou tem feito mais carreira em Portugal?

Penso cada vez mais apostar no mercado exterior. Tenho já dois ou três projetos em vista… Em Portugal da forma como as coisas estão é muito complicado. Todos os ilustradores que saem do mestrado são alertados que não dá para sobreviver só da ilustração científica. Eu, para além da ilustração, tenho apostado no ensino, no design de comunicação e também na monitorização de aves para empresas de estudos de impacto ambiental.

Dá aulas num mestrado de ilustração científica. É uma área com muita procura? Que tipos de pessoas procuram esta formação?

Normalmente as pessoas que procuram o curso de ilustração científica, ou vêm da área das ciências ou vêm da área das artes. Dentro da área das ciências há um leque muito vasto de áreas, desde a geologia à biologia, passando, por exemplo pela engenharia florestal… São pessoas que procuram uma especialização e que já desde criança têm tendência para o desenho. Da área das artes surge muita gente que procura outros registos, mas que sempre teve algum encantamento pela natureza.

Na sua opinião qual é a importância da ilustração científica para a própria ciência?

Eu conheço alguns cientistas que acham que não é importante… Eu acho que a ilustração científica tem um papel importantíssimo na divulgação da própria ciência, a par da fotografia, mas com a ressalva de que neste caso há um rastreamento mais exaustivo da informação. 

Organiza atividades de desenho de campo. Que particularidades tem este tipo de desenho?

O desenho de campo tem várias vertentes. Sempre que eu tenho um projeto em mãos procuro sair para a natureza, contactar com as espécies e fazer o registo… Depois há o desenho de campo que a pessoa faz mais para se distrair: vai fazendo esboços enquanto comtempla a paisagem. Há ainda uma outra abordagem que é a que praticamos no Grupo do Risco: as entidades recorrem a nós para a recolha de informação de um determinado local, sendo que o trabalho que resultar daí será para publicar. Neste caso há um cuidado maior.

Sente se realizado com o seu trabalho?

Eu sinto-me muito realizado! Quando acabei o curso comecei a trabalhar em agências de comunicação e de facto tinha uma vida mais estável em termos financeiros, mas não era tão feliz. Considero-me uma pessoa feliz, e vou ser tão mais feliz quanto mais projetos concretizar nesta área da ilustração científica.

Que projetos tem para o futuro?

Há um projeto muito grande que ainda não pus em prática, que é fazer sessões de esclarecimento às entidades portuguesas para que percebam as mais-valias de recorrer à ilustração científica. Tenho imenso trabalho pela frente e espero não o fazer sozinho, tenho lançado o repto a outros ilustradores… Esse é o meu maior desafio!

 

Na imagem: Rã-ibérica (Rana ibérica)

Imagem: Marco Correia

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